Topete era um passarinho levado que adorava cantar quando todos estavam dormindo e vivia bolando planos para tentar escapar da sua gaiola, o que não era muito bem entendido por seus companheiros do viveiro, afinal de contas ele tinha mais do que o necessário para levar uma vida boa e cantar alegremente todas as manhãs.
Sempre com planos mirabolantes, desde pequeno, Topete desejava ter sua liberdade para poder bater suas asas e cantar para quem e a hora que bem entendesse, muito embora antes de começar a viver em sua gaiola, teve a proteção e os cuidados de seus pais, os quais lhe ensinaram muito, sempre dando o que de melhor poderiam dar.
Quando a janela da gaiola se abria para que fosse lhe dado água e comida, Topete sempre tentava escapar, chegando as vezes até a atacar seu dono, o qual sempre lhe tratou com muito carinho e amor, pois tinha orgulho de ter um exemplar como ele, e sempre que podia ou tinha a oportunidade, adorava se exibir mostrando as qualidades de Topete aos seus amigos.
Com o passar do tempo e com muito amadurecimento, Topete via como a vida lhe consumia lentamente e como seus desejos e sonhos simplesmente não aconteciam, até porque dentro de uma gaiola as coisas poderiam até acontecer, mas não da forma como ele queria.
"O Querer", esse sempre foi um defeito de Topete, que sempre quis ou esperava demais, as vezes até conseguia o que queria, pois tinha um canto, que para muitos era encantador, mas sempre almejava mais e sempre esperava mais, tanto da sua vida, quanto dos outros passarinhos(as) que conviviam com ele.
Chegou a ter alguns romances, amores e "lances". Apaixonou-se, desapaixonou-se. Sofreu, caiu, ergueu o topete, levantou a cabeça, sacudiu a poeira e voltou a cantar de novo, aliás, nada como uma nova paixão, pra esquecer uma antiga. Era impressionante como Topete se entregava, se doava, se dedicava a ver a sua amada feliz e contente, cuja entrega seria digna de um post completo, pois há quem diga o contrário.
De tantos planos para tentar escapar de sua gaiola, um dia após ser lhe dado ração e água, Topete vislumbrou a oportunidade que sempre sonhou, pois seu dono havia deixado a janelinha sem travar, sendo muito fácil a fuga para ganhar o mundo.
E ele foi, empurrou a janelinha, saiu da gaiola, sentiu-se rejeitado por alguns passarinhos do viveiro, outros cantavam empurrando-o para mais longe, mas no meio de toda essa euforia de festa e despedida, começou a passar um filme em sua cabeça de tudo que vivera até ali, de todos os planos que bolou para conseguir escapar, de todos os amigos e principalmente do que estava sentindo naquele momento.
Sabia o que era o certo, mas também sabia que o certo, às vezes, é mais incerto que o próprio amanhã. Sentia a necessidade de ouvir e de ter a certeza de determinadas coisas, mas esperar pelo inesperado, torna-se tão doloroso, quanto ter certeza de suas decisões.
Um dia li que "Às vezes são as menores decisões que mudam a sua vida sempre", mas tomar pequenas decisões é fácil, o problema está em sair do seu habitat, que no caso de Topete, não se tratava de uma decisão tão fácil assim, ainda mais que naquele momento da sua vida, aparentemente, havia reencontrado motivo para cantar alto e se entregar novamente.
A cada dia tomamos muitas decisões, umas insignificantes outras mais importantes, as quais podem mudar, senão nossa vida, mas o rumo que ela tomará. Quando se passa a oportunidade de decidir ou de mudar determinados comportamentos, a unica coisa que nos resta é imaginar como tudo poderia ter sido e salvo melhor juízo, a imaginação é a pior forma de tortura.
Haverá continuação ...
R.V1